terça-feira, 29 de maio de 2012

Teatro


A morte é meu ditirambo,
meu escambo permanente com o destino.
A morte é meu escárnio,
adágio imanente de meu sorriso fenecido.

Rogo-vos, neste murmúrio sucumbido,
que me permita encontrar na solidão de vosso abraço
um coro de olhos arrependidos
tecendo loas, cantos dionisíacos
ao que foi uma vida de desterro e embaraço.

domingo, 20 de maio de 2012

Arco-Íris de Quintal


Enquanto aguava as plantas do jardim
Nascia um arco-íris no meu quintal
Pintando o ar estático de cores verticais
Flutuando acima da grama e dos pardais.

Como pode surgir tal pintura matinal
De folhas mortas
Por sobre o solo úmido?

Um encontro aquoso
De colorido rarefeito,
Como uma transpiração do olho,
Como o braço do nadador...

Saindo da terra,
As formigas esbarram
Na base daquela escada matizada;
Abandonam folhas,
tropeçam em frutos mortos,
Estão assombradas
Diante da múltipla luz refletida.

Nunca entendi de arco-íris,
Nem do que o destino oferece,
Mas percebo que o assombro da formiga
É inegavelmente mais pleno de realidade
Que o nascimento daquele arco-íris
Enquanto eu aguava as plantas do jardim.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Crisântemo na Madrugada


Noite que fulgura
Na natureza escassa
Desampara a alma e enlaça
A dor que a ausência emoldura.

O vazio em corpo desfalecido
De animal puxando a charrua
É fogo entre duas luas
Apenas um sol entorpecido.

É quando vem a saudade descabida
E dá nó no peito em alvoroço,
Desenho que só se tem o esboço
Do exílio daquela alma esculpida.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sobejo


Se a saudade apertar mais
jogo fora o coração
cego os olhos, corto a língua
furo os ouvidos, abro o caixão
rasgo os pulsos, bebo veneno
me jogo no rio, me enterro no chão...
Só não aguento sentir desse jeito
essa dor bem no meu peito
coisa sem explicação.
Noves fora esse sentir cruento,
o linguajar violento,
só não morro sem pedir perdão.