domingo, 15 de junho de 2014

Miragem

Brasília
Teu horizonte amanhecendo...
Retas pontilhadas de luzes artificiais
Separam teu céu do teu chão.
Teus sonhos de cidade
Renascem em cada centímetro de asfalto
Que recebe os pés dos teus trabalhadores,
O beijo doce cafeinado da namorada,
Os pingos orvalhados de minha solidão litorânea.
Te enlaço com a esperança vã nublada desta quarta-feira.
Espero que me envolvas com tua poesia de secura mística
Miragem divina do deserto primordial do Brasil.

Origem de tudo o que faz sentido.

domingo, 14 de julho de 2013

Ral Furta-cor

Tu tens um negócio,
que não consigo explicar.
É farol em ilha deserta
É sol derretido no mar.
É luz quando luz não havia
É sopro pro mundo girar.
É mistério em noite enfurecida
É grito pro silêncio acordar.
É solidão que acalma o dia
É escuro que faz assustar.
É berço onde dorme a cria
É leve canção de ninar.
É coragem contra o que temia
É choro que faz soluçar.
É sangue de hemorragia
É medo de se afogar.
É susto no pulo da gia
É travo de umbu-cajá.
É pinote de amarelinha
É doce de se lambuzar.
É dente na fotografia
É planta para se aguar.
A dúvida da teoria
A certeza de outro olhar.
É água da chuva caída
É prece que nos faz rogar.
A arte de viver a vida
É vida de desembestar.

Tu tens um negócio,
que não consigo explicar.
É farol em ilha deserta.
É sol derretido no mar.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Revolução

Guardei as bandeiras,
os gritos de ordem...
Ergui no lugar
Alguns poucos versos.
Hoje,
Na urgência do mundo
Eles me ajudam a suportar
o que a vida tem de incoerência
e, por outro lado,
retém em estado de palavra o que ela tem de belo e sutil.
Hoje não grito mais.
O silêncio me ensina que o tempo
é o senhor das entrelinhas...
Verbaliza a metáfora da composição do real.
Onde mais quimera e desespero seriam um par da mesma valsa vienense?
Em que outro salão bailariam esplendidamente devaneio e sofreguidão?
Escuto a música do silêncio.
Emudeço em respeito à tão estupenda partitura.
E nesse emudecer,
harmonizo o que antes era berro e bolor.

domingo, 21 de abril de 2013

Engolir


Não trombeteio o meu silêncio
apenas faço soar o murmúrio
da palavra escondida
no eco do pensamento,
daquilo tudo que o sono impede de resplandecer.
Enquanto morta a língua,
a mente escorre
na lágrima que o coração verte
num verso sucumbido.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Berço dos Afogados


Não.
Não sei o que me fez assim:
Casa abandonada prestes a ruir...
Barco afundado no azul escuro da noite.
Entre lama e sargaço
misturo-me aos dejetos e desejos do mar que me navega,
em cujas ondas tal qual bêbado me enlaço.
E aquosamente me reafirmo: líquido, seiva, charco
lâmina de aço afogada em lágrima carmim.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Criança


Agora entendo o destino
que me fez menino
pra todo o sempre.
E não há tempo
que desfaça o invento
d'uma criança de repente.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Setembrina N° 1


E essa lua flácida
iniciando sua obesidade asfixiante dos corações solitários?

Desejo-te,
minha redonda felina,
para aprender o destino mórbido que teu peso me faz reverenciar!

Esmaga-me
com tua doçura inebriante,
enquanto procuro desvendar meu passado de crueldade romântica.

Engulo-te
e te vomito em pequenas estrelas na negritude infinita,
para assim esquecer que tua grandeza iludiu o céu de minhas paixões fugazes!