domingo, 14 de julho de 2013

Ral Furta-cor

Tu tens um negócio,
que não consigo explicar.
É farol em ilha deserta
É sol derretido no mar.
É luz quando luz não havia
É sopro pro mundo girar.
É mistério em noite enfurecida
É grito pro silêncio acordar.
É solidão que acalma o dia
É escuro que faz assustar.
É berço onde dorme a cria
É leve canção de ninar.
É coragem contra o que temia
É choro que faz soluçar.
É sangue de hemorragia
É medo de se afogar.
É susto no pulo da gia
É travo de umbu-cajá.
É pinote de amarelinha
É doce de se lambuzar.
É dente na fotografia
É planta para se aguar.
A dúvida da teoria
A certeza de outro olhar.
É água da chuva caída
É prece que nos faz rogar.
A arte de viver a vida
É vida de desembestar.

Tu tens um negócio,
que não consigo explicar.
É farol em ilha deserta.
É sol derretido no mar.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Revolução

Guardei as bandeiras,
os gritos de ordem...
Ergui no lugar
Alguns poucos versos.
Hoje,
Na urgência do mundo
Eles me ajudam a suportar
o que a vida tem de incoerência
e, por outro lado,
retém em estado de palavra o que ela tem de belo e sutil.
Hoje não grito mais.
O silêncio me ensina que o tempo
é o senhor das entrelinhas...
Verbaliza a metáfora da composição do real.
Onde mais quimera e desespero seriam um par da mesma valsa vienense?
Em que outro salão bailariam esplendidamente devaneio e sofreguidão?
Escuto a música do silêncio.
Emudeço em respeito à tão estupenda partitura.
E nesse emudecer,
harmonizo o que antes era berro e bolor.

domingo, 21 de abril de 2013

Engolir


Não trombeteio o meu silêncio
apenas faço soar o murmúrio
da palavra escondida
no eco do pensamento,
daquilo tudo que o sono impede de resplandecer.
Enquanto morta a língua,
a mente escorre
na lágrima que o coração verte
num verso sucumbido.