domingo, 5 de fevereiro de 2012

Da incapacidade de ser prudente


A maturidade trouxe-me um desejo que não acreditava, nos meus devaneios mais inconscientes, ser possível exercitar. A necessidade de expressar-me publicamente em linguagem poética. Apesar de a poesia me acompanhar desde sempre, via-me impedido, contrito, num misto de temor e incapacidade de ver através dos olhos públicos o que me é tão caro. Apesar da necessidade sempre presente de expressão, faltava-me coragem de ultrapassar essa divisa entre o que me é tão falho e íntimo e que transformado em poesia precisa do olho do leitor para ganhar vida própria. Todo texto tem de ganhar vida na leitura, no olhar de um outro. E esse transportar-se na leitura é, sob certos aspectos, um parto, um lançar-se no abismo, no segredo do salto. Um desafio que nem sempre temos coragem de assumir. Assumo agora este desafio de lançar-me poeticamente neste blog. Agradeço aos amigos que me impeliram a este voo cego. Aos amigos que em diversos momentos de minha trajetória quase que me ultimaram a expor estes versos que ora começo a publicar. Esse blog é uma tentativa de me fazer merecedor desses olhares benevolentes. É fruto da vontade de colocar um pouco de poesia no cotidiano de quem o ler. Vejo-me tragando, de sob a terra, o mistério que até então minha vista não alcançara.


POEMA

Sob a terra,
Onde a raiz não alcança,
Dorme o verso
Onde a palavra dança.

2 comentários:

  1. Dudu. Que maravilhosa notícia o nascimento do seu Blog! Gostei e gostei novamente. Já estou de "seguindo". Beijos, Taci

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  2. Eduardo, compreendo bem essa hesitação que toma o sujeito no exato instante em que cedemos ao desejo incontido de "poetar", ou melhor, de publicar o tão privadamente reconhecido. É uma luta inglória.
    Imagino que Geó tem sua parcela de "culpa" para a existência deste blog, ele que já publicou poemas teus no Inscritos. Bom ter vencido a imprudência! Bom para ti e, certamente, para nós. Depois venho com mais vagar para apreciar teu latim.
    Bem-vindo ao time. Aguente firme! Há horas que doi, mas passa, sempre passa...depois vem mais, graças a Deus!
    Abraço.
    Magna

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